Crónica de Alexandre Honrado | Ainda as eleições só porque sim

Ainda as eleições só porque sim

Já não estamos efervescentes com os resultados eleitorais – digo nós mas sei que é um grupo diminuto aquele que se rala com as eleições, antes, durante, ou depois delas afetarem as nossas vidas, metade do País que se impõe à outra metade (45 por cento de abstenções! Não venham depois queixar-se).

Acreditem que desta vez fiz de propósito, não me meti ao barulho muitas vezes, e não, não é resultado da idade, que vai avançando e já não me move a saltar para cima das mesas de megafone em punho, mas sobretudo por saber que é incisivo e acertado levar o argumento ao auditório certo, renovando a legibilidade, proporcionando a eficácia ao discurso que, não sendo assim, não passará da palavra perdida.
Os resultados eleitorais não espantaram os mais atentos. O PSD foi o grande derrotado. Pulverizou-se nos grandes centros, em Lisboa a começar, onde a candidata não sabia encontrar sozinha o caminho para a Câmara Municipal e os seus apoiantes não lhe emprestavam, egoisticamente, nem GPS nem mapa.
A começar também pela miúda dos centristas que não ganhou nada, mas que deu aquele espetáculo triste à porta da sede do Largo do Caldas com 11 jovens militantes, 9 bandeiras e 4 telefones a saudarem-na na primeira fila, a captarem o momento da “festa” sendo captados pelas imagens que mostravam quão paupérrima era a dita. Mas sabemos que os jovens centristas têm mais que fazer do que andar em campanhas eleitorais (àquela hora estariam a braços com as exigências de gestão da Yupido e dos 28.768.199.972 euros, do seu capital social, isto é, um valor equivalente a 15% do PIB português; umas vezes aparece a Parvalorem a fazer de nós parvos, outras vezes a Yupido, a fazer do português estúpido, enfim, não liguem, sou eu que confundo tudo).
Não ganhando nada, repita-se, os resultados dos PPs foram antes produto de um fenómeno antigo que levou a líder a ser segunda em Lisboa (com poucos mais votos do que no passado obteve o malogrado Fernando Seara,  que já não está entre nós, felizmente, no campo eleitoral mais imediato), a baixar abruptamente nos votos do seu partido a nível nacional e a perder algumas das câmaras que julgava seguras. Triste festa. É como saltar de alegria por ter uma vela iluminada sobre um bolo de esferovite romba. Mas dou os parabéns à candidata que, pelo menos, teve mais alguns votos que a sua colega de partido, a cantora Ágata. Ágata cantora e candidata da coligação CDS-PP/MPT à Câmara Municipal de Castanheira de Pêra arrecadou apenas 4,57% em termos de percentagem, o equivalente a 90 votos. Tomara Paulo Portas, outro que felizmente já não está entre nós. Tomara ele tanto êxito, sem nenhum dos seus truques habituais. Ou tomara Passos Coelho, que como Ágata também já foi cantor, e como ela sai em baixa disto tudo.
Como disse, a moça centrista foi bafejada por um fenómeno antigo: sempre que a direita se zanga com o PSD faz do partido dela barriga de aluguer. O fenómeno é como aquele das dietas balão, ora o ventre fica opíparo, ora a barriga mostra os ossos.  (É um bocadinho como a Marine Le Pen em França, mas sem tanta arrogância, acho eu). O partido dela, conhecido pelo táxi, pois o seu grupo parlamentar, sem este efeito de barriga de aluguer, cabia muito justamente num desses transportes meio públicos meio privados, não é mais do que um produto de circunstâncias concretas. O PSD entrou em vórtice descendente, puxado para o abismo por um líder que os seus correligionários já deitavam pelos olhos, e o espaço, à direita (mesmo dentro da ala direita do PS ou daqueles que, vindos da direita, votam neles de quando em vez ) ficou uma vez mais garantido. A miúda não venceu nada, mas portou-se como uma vencedora. Admito que à minha volta algumas pessoas acharam-lhe graça, um primo meu até diz que é sensual, tem um je ne sais quoi  (deve ser também influência da Le Pen), embora nada que chegue aos calcanhares do engenheiro Robles do Bloco que deu a volta a umas quantas românticas eleitoras que o levaram para a urna, por falta de melhor.
Eu próprio tive pena que a jovem centrista perdesse, é que as 20 novas estações de metro (que ela iria provavelmente trazer de Paris) não passam à prática imediatamente – e que jeito fariam, a mim, ao Medina, ao pessoal de Lisboa.
Devia falar agora, para acabar, da vitória notável, quase nos 70 por cento, do PSD de Mafra – que está muito longe do PSD nacional, pela coerência e consistência, por uma filosofia política intemporal, levando propaganda e poder à rua todos os dias desde que foi eleito no passado, fazendo um trabalho que pelos vistos agrada a muitas pessoas e convence outras tantas. Se o Presidente da Câmara quiser falar comigo, apontar-lhe-ei lacunas depois de cumprimentá-lo pela vitória, a democracia é isso e sei que ele sabe que estamos em lados opostos, mas nunca quando se trata de querer o melhor para os nossos. Talvez até lhe dissesse que pode dar o exemplo a um partido esfrangalhado, com péssimas escolhas e candidatos frágeis, alguns mesmo odiosos. Não sei o que fariam Rui Rio, ou os insuportáveis Marco António Costa, Montenegro, Relvas e aquele extremista de Loures na nova dinâmica laranja. Sei que dificilmente estariam ao nível das figuras mais respeitáveis e saudosas (em matéria de política nacional de construção), que já estiveram no partido, como Joaquim Magalhães Mota, Francisco de Sá Carneiro, Carlos Alberto da Mota Pinto, António Barbosa de Melo, Sérvulo Correia, Marcelo Rebelo de Sousa ou o injustamente esquecido antifascista, anti-salazarista  e republicano histórico, Nuno Aires Rodrigues dos Santos – homens que puseram Portugal à frente – coisa que muitos dos seus sucessores não foram capazes.

 

Alexandre Honrado
Historiador

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